sábado, 16 de julho de 2011

ESTEREÓTIPOS

Falar sobre estereótipos é promover uma analise debruçada a luz dos preconceitos. Claro que desde a infância mesmo dentro da família se constitui desenhos estereotipados pautados no comportamento humano. Sejam eles de classificação dos irmãos, sejam por uma questão social financeira, enfim há uma generalização superficial de algo sobre alguma coisa longe de uma racionalidade discutida, mas sim imposta.



O filosofo e jurista italiano Norberto Bobbio a cerca do preconceito diz:





“... que a crença na veracidade de uma opinião falsa só se torna possível



Por que essa opinião tem uma razão prática: ela corresponde



aos desejos, às paixões, ela serve aos interesses de quem a expressa.”



Fazendo uma analise desde minha infância identifiquei o estereótipo social. Estudei em escola de bairro e morei em bairro pobre. Sou filha de mãe solteira, e por conta disso sofri muito quanto à questão de não ter pai. Quando colegas sabiam que era filha de mãe solteira, muitas colegas não brincavam tão pouco se relacionavam comigo. Isso que no seio familiar, era algo tão pouco relevante, pois sempre tiveram outras figuras masculinas (avô, tios) que supriram está possível falta. Na escola isso tomou uma proporção tão gigantesca, principalmente nas comemorações do dia dos pais, pois tínhamos que fazer cartões e presentes para o PAI. Essa data era um martírio para mim. Essa problemática se estendeu por muito tempo inclusive no ensino fundamental. Foi quando saí do âmbito escolar público e fui para o particular. Lá, esta contextualização, agregou-se muito ao fato do lugar onde morava. Na condição de bolsista, com poucos recursos financeiros para se vestir e adquirir materiais, comprar lanches e o meio de transporte utilizado para se deslocar de casa para a escola vice versa, passei a perceber que havia pré requisitos para poder estar dentro de uma sociedade escolar formadora de futuros cidadãos que vão lutar por causas sociais.



Quando resolvi escolher a profissão de professora, creio que inconscientemente busquei alguma posição na qual de fato pudesse extravasar esta minha indignação social. Depois de formada comecei a trabalhar em escolas de periferia e projetos sociais buscando sempre promover uma condição cidadã ao corpo alunado, de modo a combater estas questões levantadas. Uma questão que inicialmente procurei fazer é trabalhar não o dia dos pais, mas sim, o dia da família, hoje muito comum.



Outra questão foi pontuar para meu aluno que não é porque moram em bairros pobres, não podem se relacionar, tão pouco usufruir de um contexto de escola particular, e, sobretudo devem saber se impuser como respeito, para não serem taxados de “vileiros”. Participar de jogos, atividades de competição e mostras de trabalhos estabelecendo uma relação de troca e respeito e não de competição. Ou seja, mostrar novos horizontes.



Trabalho em duas realidades bem diferentes. Pela manhã numa instituição de menores infratores, que variam de 12 a 21 anos. Num contexto de público que está à margem da sociedade. A tarde numa com crianças 6 anos, que vivem na mais pura pobreza, a qual foi conferida em visita por mim. E por ironia, muitos dos alunos pequenos possuem dentro de suas casas irmãos que estão presos por algo infracional cometido. Outros, porém possuem uma realidade familiar estável e dita “normal” diante da sociedade. Mas o que hoje é “normal” perante a sociedade? Ter pai e mãe morando na mesma casa?



Certa vez, em conversa informal, um menino de 17 anos, internado na instituição para meninos infratores, o perguntei se não havia nenhuma aspiração para sair do mundo do crime. E como era a sua estrutura familiar. Em poucas palavras e de forma direta ele teria me dito: “Dona, vontade a gente até tem, mas todo mundo é do ramo do crime!”



Retomei a aula, e fiquei me perguntando, estrutura familiar “normal” como na condição do menino, dita alguma boa de possibilidade de explorar novos horizontes saudáveis?



E a questão cidadã? Creio que estes meninos nunca se sentiram cidadãos, ou melhor, ratificando, sentem-se sim e são tratados como tal, dentro desta instituição. E fico imaginando, quando ganham a sua liberdade, não sabem o que fazer com ela, pois há ainda poucas políticas em relação ao contexto marginalizado, com programas para de fato se debruçar sobre as reais necessidades e possibilidades de recuperação destes jovens.



Eles não conseguem se imaginar dentro de uma escola regular, carregando este estereótipos de ex preso. A linguagem que segregam é a que precisam se proteger, pois não se sente protegidos depois por um período protegeram-se a seu modo. A única linguagem que sabe expressar que ladrão uma vez, ladrão sempre. Como arrancar este estereótipos das suas almas, partindo do principio que claro, há uma pré disposição de uma minoria a mudança. Por que será? Insegurança, por princípios de lealdade a família ou a determinado grupo... E onde fica o ser cidadão fulano de tal?



Ele consegue se enxergar, como tal?



Bem como trabalhar estes estereótipos dentro de um contexto de sala de aula?



A maneira mais simples e de impacto é apresentar em propostas de sala de aula, atividades que os ensine os seus direitos e deveres de um cidadão. Que os mesmos são cidadão e podem usufruir do contexto social, como qualquer outro ser da sociedade. Trazer exercícios de preenchimento de documentos como currículo, ficha de trabalho e loja, saber que podem fazer ficha em loja e quais os documentos podem e devem ser providenciados para que se efetue a possibilidade do aluno se sentir parte da sociedade.



Providenciar carteira de identidade, CPF, carteira de trabalho... Quando assim tiver idade, encaminhar para trabalho após saírem da instituição.



“Sabe-se, através de evidências empíricas, que se um indivíduo tentar suprimir um determinado tipo de pensamento o mesmo pode retornar a consciência com maior impacto, se comparado a alguém que não participou do mesmo tipo de tarefa, esse feito irônico é denominado efeito ricochete (Wegner, 1994).”



Essa seria uma alternativa para poder motivar os discentes a margem da sociedade a luz de uma possível mudança promovendo um aumento quanto à consciência contra o preconceito inclusive por parte destes meninos em relação à sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário